Entre o anjo da história e a morte do anjo do lar: anarquismo e a escrita feminina no jornal A Plebe
Palavras-chave:
Anarquismo, História das mulheres, BrasilResumo
Este artigo propõe uma análise do anarquismo na Primeira República brasileira (1889-1930) mediante a aplicação da perspectiva de Walter Benjamin de "escovar a história a contrapelo" (1985c). O objetivo é duplo: resgatar a narrativa do movimento anarquista, sistematicamente reprimido e silenciado, e, dentro dele, iluminar a historicidade das mulheres, duplamente invisibilizadas. O estudo centra-se no gênero como categoria de análise (Scott, 1988), examinando a autoria feminina no jornal A Plebe entre 1917 e 1923, tomando escritos de colaboradoras como fontes primárias, além disso, foi feita uma revisão bibliográfica de autoras e autores como Margareth Rago (1985; 2004; 2008), Silvio Gallo (1990), Claudio Batalha (2018) e Alexandre Samis (2008). O estudo demonstra como essas mulheres articularam de forma intrínseca a crítica anticapitalista e a luta antipatriarcal, defendendo que a emancipação feminina era indissociável da libertação social total. Conclui-se que a escrita feminina anarquista se constitui não apenas como um testemunho de resistência, mas como uma prática intelectual que forjou um espaço singular de agência e crítica no interior do movimento operário.
Referências
REFERÊNCIAS
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