Crime, degeneração e hereditariedade no Boletim de Eugenia (1929-1932)

Autores

  • Arthur Luis de Vasconcelos da Costa

Palavras-chave:

Eugenia, Crime, Hereditariedade

Resumo

Entre o final do século XIX e início do XX, o discurso médico-científico passou a exercer papel central na interpretação da criminalidade, articulando teorias deterministas e raciais com projetos de modernização nacional. No Brasil, essa perspectiva encontrou terreno fértil na consolidação da eugenia como ferramenta de controle social. Este artigo analisa, por meio de revisão bibliográfica e discussão historiográfica, como o Boletim de Eugenia (1929–1932), editado por Renato Kehl, articulou hereditariedade, degeneração e criminalidade na formulação de um modelo etiológico do crime. Partindo da hipótese de que o periódico funcionou como mecanismo de difusão e legitimação de um discurso biologizante e moralizante sobre o desvio, investigam-se as estratégias de classificação, exclusão e patologização dos sujeitos tidos como “degenerados”. Observa-se que a produção de Kehl não apenas importava autores estrangeiros como Lombroso e Davenport, mas operava uma fusão entre ciência, moral e política, contribuindo para naturalizar desigualdades sociais sob o verniz da neutralidade científica. O estudo conclui que, embora cientificamente desacreditadas, tais formulações continuam a ressoar de forma velada nos discursos biomédicos e penais contemporâneos, exigindo vigilância crítica sobre as continuidades do pensamento eugênico no Brasil.

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Publicado

2025-11-19

Como Citar

de Vasconcelos da Costa, A. L. (2025). Crime, degeneração e hereditariedade no Boletim de Eugenia (1929-1932). REVISTA ENSINE, 3(2). Recuperado de https://journal.ensin-e.edu.br/rensine/article/view/85

Edição

Seção

Artigos